terça-feira, 19 de junho de 2012

Nota do DANUT sobre a greve dos professores


NOTA DO DANUT SOBRE

A GREVE DOS PROFESSORES

                Quanto vale a educação? Pergunta difícil de ser respondida em um país que pela prática, prova que essa não é sua prioridade. Investimentos aquém do desejável e corrupção além do aceitável fazem do Brasil, que tem a 6ª maior economia do mundo, o 88ª lugar no ranking de educação da UNESCO e o 84ª no IDH (índice de Desenvolvimento Humano).

                Os Governos passaram um após o outro e os investimentos nas áreas sociais só achataram. Dilma cortou 55 bilhões de reais esse ano, 1,9 bilhões só da educação (a saúde sofreu corte de 6 bilhões de reais!). Enquanto isso “Cachoeiras” continuam a rolar no cenário político brasileiro, pagando ex-Ministros da Justiça para se defender das acusações, tornando o Congresso nacional o picadeiro de desesperança do sofrido povo brasileiro . Dentro desse quadro não é difícil entender nossa colocação no ranking da UNESCO ou no IDH.

Num local elitizado, de mentes orgulhosas de seu próprio intelecto surgiu a indignação que fez soar o mais forte grito por educação de qualidade. O ANDES deflagrou greve no dia 17 de Maio, convocando todos os docentes das Instituições federais de Ensino Superior a lutar por melhores salários e condições de trabalho. Em 2011 o ANDES assinou um acordo emergencial com o Governo, que se comprometeu a reestruturar a carreira docente (principal reinvindicação) até Março de 2012. O acordo não foi cumprido, e diante da situação inadmissível de profunda desvalorização dos docentes, principalmente derivada da criação do REUNI, a categoria não mais aceitou as enrolações do Governo federal.

“Os professores federais estão em greve em defesa da Universidade Pública, Gratuita e de Qualidade e de uma carreira digna, que reconheça o importante papel que os docentes têm na vida da população brasileira. O governo vem usando seguidamente o discurso da crise financeira internacional como justificativa para cortes de verbas nas áreas sociais e para rejeitar todas as demandas feitas pelos servidores públicos federais por melhores condições de trabalho, remuneração e, consequentemente, qualidade no serviço público. A situação provocada pela priorização de investimentos do Estado no setor empresarial e financeiro causa impacto no serviço público, afetando diretamente a população que dele se beneficia.”, diz a nota do ANDES. “Para reestruturação da carreira atual, desatualizada e desvirtuada conceitualmente pelos sucessivos governos, o ANDES-SN propõe uma carreira com 13 níveis, variação remuneratória de 5% entre níveis, a partir do piso para regime de trabalho de 20 horas, correspondente ao salário mínimo do DIEESE (atualmente calculado em R$2.329,35) A valorização dos diferentes regimes de trabalho e da titulação devem ser parte integrante de salários e não dispersos em forma de gratificações.”, continua a nota.

Nesse momento muitos estudantes se posicionam contrários à greve, dizendo que isso apenas atrapalha o andamento do curso e atrasa as férias. Havemos de pensar: se sofremos juntos, porque não lutar juntos? Todos percebemos a necessidade de investir em educação para termos uma nação desenvolvida e democrática, esse é o momento de por em prática todo discurso que fazemos quando ficamos indignados ao assistir televisão e tomar conhecimento da situação precária de nosso povo. Havemos de lutar! Sim, teremos alguns prejuízos no currículo a curto prazo e individualmente, mas a longo prazo e em conjunto essa é a única forma de vencer todo ostracismo que toma conta da sociedade, habituada a se escravizar por um salário mínimo.

Outros dirão que isso em nada resultará. Mas me respondam, quando foi que se conformar com a situação resultou em benefícios para a população? Nada é ganho, tudo que temos, seja individualmente ou enquanto sociedade não chegou até nós através de misericórdia, mas sim através de muitas lutas travadas cotidianamente, com momentos ápices e outros mais monótonos, em todas as situações, em qualquer lugar do mundo, sempre houve quem dissesse “isso nunca vai mudar”, e sempre houve quem lutasse com fé em um futuro mais auspicioso do que o que encontrou.

Sempre houve também, aqueles que nunca desistiram e se empenharam incondicionalmente na construção de uma sociedade justa e igualitária, tapando os ouvidos das lamúrias de eternos inocentes que acreditam que nada tem a ver com a situação política do país. Nesse momento diversas Universidades estão também com greve discente, com o objetivo de incorporar as reivindicações do movimento estudantil na lista de prioridades. Na UFMG o sucateamento do ensino existe, mas em outras Universidades a situação é ainda pior, com alunos tendo de ter aulas em “containers”, sem água, sem restaurante Universitário, nem mesmo restaurantes privados, além de não terem aulas de diversas matérias e ainda sim se formarem. Dentre as principais reivindicações estão as relacionadas com Assistência estudantil (Bandejão, moradia, auxílio ao material acadêmico), bibliotecas desatualizadas, salas insuficientes, laboratório, etc.

O Movimento Estudantil da UFMG está se organizando para que seja realizada uma Assembléia dos Estudantes, na próxima quinta-feira, dia 21, a fim de discutir a greve, apontar nossas reivindicações e o apoio discente. A todos, fazemos um chamado, a comparecerem na Assembléia e a fortalecerem a luta por educação, certos, de que somente ela é capaz de interromper o ciclo de corrupção, miséria e violência que assolam nosso país.

Termino esse texto com uma citação de Florestan Fernandes, que vale a pena ser lembrada por cada jovem, por cada estudante, por cada um que tenha sangue correndo nas veias e poesias cravadas na alma:

"Ou os estudantes se identificam com o destino do seu povo, com ele sofrendo a mesma luta, ou se dissociam do seu povo, e nesse caso, serão aliados daqueles que exploram o povo".


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