NOTA DO DANUT SOBRE
A GREVE DOS
PROFESSORES
Quanto
vale a educação? Pergunta difícil de ser respondida em um país que pela
prática, prova que essa não é sua prioridade. Investimentos aquém do desejável
e corrupção além do aceitável fazem do Brasil, que tem a 6ª maior economia do
mundo, o 88ª lugar no ranking de educação da UNESCO e o 84ª no IDH (índice de
Desenvolvimento Humano).
Os
Governos passaram um após o outro e os investimentos nas áreas sociais só
achataram. Dilma cortou 55 bilhões de reais esse ano, 1,9 bilhões só da
educação (a saúde sofreu corte de 6 bilhões de reais!). Enquanto isso
“Cachoeiras” continuam a rolar no cenário político brasileiro, pagando
ex-Ministros da Justiça para se defender das acusações, tornando o Congresso
nacional o picadeiro de desesperança do sofrido povo brasileiro . Dentro desse
quadro não é difícil entender nossa colocação no ranking da UNESCO ou no IDH.
Num local
elitizado, de mentes orgulhosas de seu próprio intelecto surgiu a indignação
que fez soar o mais forte grito por educação de qualidade. O ANDES deflagrou
greve no dia 17 de Maio, convocando todos os docentes das Instituições federais
de Ensino Superior a lutar por melhores salários e condições de trabalho. Em
2011 o ANDES assinou um acordo emergencial com o Governo, que se comprometeu a
reestruturar a carreira docente (principal reinvindicação) até Março de 2012. O
acordo não foi cumprido, e diante da situação inadmissível de profunda
desvalorização dos docentes, principalmente derivada da criação do REUNI, a
categoria não mais aceitou as enrolações do Governo federal.
“Os
professores federais estão em greve em defesa da Universidade Pública, Gratuita
e de Qualidade e de uma carreira digna, que reconheça o importante papel que os
docentes têm na vida da população brasileira. O governo vem usando seguidamente
o discurso da crise financeira internacional como justificativa para cortes de
verbas nas áreas sociais e para rejeitar todas as demandas feitas pelos
servidores públicos federais por melhores condições de trabalho, remuneração e,
consequentemente, qualidade no serviço público. A situação provocada pela
priorização de investimentos do Estado no setor empresarial e financeiro causa
impacto no serviço público, afetando diretamente a população que dele se beneficia.”,
diz a nota do ANDES. “Para reestruturação da carreira atual, desatualizada e
desvirtuada conceitualmente pelos sucessivos governos, o ANDES-SN propõe uma
carreira com 13 níveis, variação remuneratória de 5% entre níveis, a partir do
piso para regime de trabalho de 20 horas, correspondente ao salário mínimo do
DIEESE (atualmente calculado em R$2.329,35) A valorização dos diferentes
regimes de trabalho e da titulação devem ser parte integrante de salários e não
dispersos em forma de gratificações.”, continua a nota.
Nesse momento
muitos estudantes se posicionam contrários à greve, dizendo que isso apenas
atrapalha o andamento do curso e atrasa as férias. Havemos de pensar: se
sofremos juntos, porque não lutar juntos? Todos percebemos a necessidade de
investir em educação para termos uma nação desenvolvida e democrática, esse é o
momento de por em prática todo discurso que fazemos quando ficamos indignados
ao assistir televisão e tomar conhecimento da situação precária de nosso povo.
Havemos de lutar! Sim, teremos alguns prejuízos no currículo a curto prazo e
individualmente, mas a longo prazo e em conjunto essa é a única forma de vencer
todo ostracismo que toma conta da sociedade, habituada a se escravizar por um
salário mínimo.
Outros dirão
que isso em nada resultará. Mas me respondam, quando foi que se conformar com a
situação resultou em benefícios para a população? Nada é ganho, tudo que temos,
seja individualmente ou enquanto sociedade não chegou até nós através de
misericórdia, mas sim através de muitas lutas travadas cotidianamente, com
momentos ápices e outros mais monótonos, em todas as situações, em qualquer
lugar do mundo, sempre houve quem dissesse “isso nunca vai mudar”, e sempre
houve quem lutasse com fé em um futuro mais auspicioso do que o que encontrou.
Sempre houve
também, aqueles que nunca desistiram e se empenharam incondicionalmente na
construção de uma sociedade justa e igualitária, tapando os ouvidos das
lamúrias de eternos inocentes que acreditam que nada tem a ver com a situação
política do país. Nesse momento diversas Universidades estão também com greve discente,
com o objetivo de incorporar as reivindicações do movimento estudantil na lista
de prioridades. Na UFMG o sucateamento do ensino existe, mas em outras Universidades
a situação é ainda pior, com alunos tendo de ter aulas em “containers”, sem
água, sem restaurante Universitário, nem mesmo restaurantes privados, além de
não terem aulas de diversas matérias e ainda sim se formarem. Dentre as principais
reivindicações estão as relacionadas com Assistência estudantil (Bandejão,
moradia, auxílio ao material acadêmico), bibliotecas desatualizadas, salas insuficientes,
laboratório, etc.
O Movimento
Estudantil da UFMG está se organizando para que seja realizada uma Assembléia
dos Estudantes, na próxima quinta-feira, dia 21, a fim de discutir a greve,
apontar nossas reivindicações e o apoio discente. A todos, fazemos um chamado,
a comparecerem na Assembléia e a fortalecerem a luta por educação, certos, de
que somente ela é capaz de interromper o ciclo de corrupção, miséria e
violência que assolam nosso país.
Termino esse
texto com uma citação de Florestan Fernandes, que vale a pena ser lembrada por
cada jovem, por cada estudante, por cada um que tenha sangue correndo nas veias
e poesias cravadas na alma:
"Ou os
estudantes se identificam com o destino do seu povo, com ele sofrendo a mesma
luta, ou se dissociam do seu povo, e nesse caso, serão aliados daqueles que
exploram o povo".